sábado, 13 de fevereiro de 2016

Má qualidade do ar mata 5,5 milhões de pessoas por ano

Por trás da fumaça expelida por usinas, escape de carros e fogões a lenha há um dos principais riscos de morte do mundo. A poluição atmosférica mata cerca de 5,5 milhões de pessoas por ano, segundo um novo levantamento da Universidade de British Columbia, no Canadá. Mais da metade deste contingente está em apenas dois países: a China (1,6 milhão de óbitos) e a Índia (1,4 milhão). Embora não esteja listado como uma das nações de situação mais preocupante, o Brasil viu o número de óbitos aumentar 131% em apenas 23 anos, passando de 18 mil em 1900 para 41,7 mil em 2013.

Além do crescimento desordenado das cidades, os países emergentes ainda demonstram sua incapacidade em retirar os combustíveis fósseis de sua economia e mesmo de práticas comuns no cotidiano. Na China, por exemplo, a combustão de carvão ainda obscurece os esforços para “limpar” a indústria nacional. Na Índia, o maior perigo está dentro de casa. A exposição por horas seguidas a fogões precários, movidos a lenha, carvão e querosene equivale ao consumo de 400 cigarros.



A poluição atmosférica é o quarto maior fator de risco de óbitos no mundo e, de longe, a principal razão para desenvolvimento de doenças ligadas ao meio ambiente — assinala Michael Brauer, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade de British Columbia e coautor da pesquisa, divulgada no encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência. — Na China e na Índia, apenas 1% da população vive em áreas que atendem ao padrão de qualidade do ar estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

O panorama das outras regiões do planeta é menos grave, mas poucos países se enquadram nos limites toleráveis de poluição admitidos pela OMS. É o caso, por exemplo, do Canadá e da Suíça. Alguns países europeus relaxaram as medidas de controle da qualidade do ar impostas nas últimas décadas. Uma vitrine do desleixo é Paris, onde a vista cada vez mais cinzenta levou a prefeitura a estudar a proibição da circulação de carros no centro da cidade.



No mapa, a África aparece como um dos continentes com os menores índice de poluição, o que não deve refletir a realidade. De acordo com os pesquisadores, diversos países não realizam medições da qualidade do ar, afetando o retrato sobre a saúde de sua população. É o caso de Ruanda, onde 90% da economia é baseada na queima de combustíveis fósseis.

— As informações coletadas por satélite encorajaram os países asiáticos a medirem e divulgarem o seu índice de poluição atmosférica — explica Carlos Dora, coordenador do Departamento de Saúde Pública e Determinantes Sociais e Ambientais da OMS. — A população chinesa está muito interessada nestes resultados. Na Índia, o governo lançou recentemente um relatório sobre as medidas que deseja tomar, ressaltando a relação entre a saúde e a qualidade do ar.

Os EUA são os maiores poluidores das Américas — uma posição natural, segundo os pesquisadores, devido ao tamanho da população e da vitalidade econômica. Em seguida vem o Brasil, onde o estudo sobre os efeitos da poluição atmosférica ainda estão praticamente restritos às regiões mais populosas.



Professor do Instituto de Física da USP, Paulo Artaxo destaca que 30 mil pessoas morreram devido à alta poluição do ar em São Paulo em 2010.

— Isso é como um avião caindo no meio da cidade a cada 15 dias, e ninguém percebe — lamenta.

Entre 2013 e 2014, Artaxo foi um dos coordenadores do Projeto Fontes, que quantificou o impacto da poluição provocada por automóveis no Rio e em São Paulo. E concluiu que o transporte é, de fato, o setor mais preocupante e carente de projetos de sustentabilidade.

— Vimos que 62% da poluição atmosférica no Rio e em São Paulo estão associados aos transportes — ressalta. — Nenhuma área urbana conseguirá ser sustentável se houver milhões de automóveis nas ruas. Precisamos ampliar a rede de transporte público, principalmente o metrô; buscar combustíveis mais limpos, como o gás natural e o etanol; e na injeção direta de combustíveis, que diminuem pela metade a emissão de poluentes. Estas políticas deveriam estar sendo implementadas há pelo menos dez anos. No Norte do país, temos as queimadas, que também prejudicam uma grande parcela da população.


NÍVEIS ACIMA DO PERMITIDO

De acordo com a OMS, o índice máximo tolerável de material particulado no ar — aquele associado a doenças cardíacas e danos ambientais — é de 10 microgramas por metro cúbico (µg/m3). Diversas cidades americanas estão se aproximando desta meta. Na Europa, porém, este registro é quatro vezes maior. No Brasil, até seis vezes. Na Índia e na China, chega a 300 µg/m3.



— Os países em desenvolvimento têm uma tarefa tremenda pela frente — avalia Dan Greebaum, presidente do HEI, uma ONG com sede em Boston que patrocina projetos contra a poluição atmosférica. — O levantamento canadense vai ajudar estas nações a identificar que ações podem melhorar sua saúde pública.

Coautora do estudo, Qiao Ma, pesquisadora da Escola de Meio Ambiente da Universidade de Tsinghua, em Pequim, estima que somente a combustão de carvão, responsável por 366 mil mortes na China em 2013, provocará pelo menos 900 mil óbitos em 2030.

— Precisamos urgentemente de metas mais ambiciosas para conter os gases-estufa — reivindica.


FONTE: O Globo


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