Segundo os procuradores da força-tarefa, a prisão dele está vinculada às investigações das autoridades suíças sobre a atuação da Odebrecht naquele país e pode estar relacionada aos mesmos fatos apurados na Lava-Jato. As autoridades suíças desconheciam o mandado de prisão preventiva expedido no Brasil.
Migliaccio, segundo os investigadores da Lava-Jato, possui uma gama de empresas offshore e contas em pelo menos três bancos estrangeiros - PKB, Audi e Barclays, todos na Suíça. Ele é apontado como responsável por offshores e contas que foram usadas pela Odebrecht para pagar propina no exterior. A quebra de sigilo de e-mails usados pelo executivo mostrou que ele tinha poder para administrar uma conta usada pela Constructora Internacional Del Sur, que pagou propinas a dois ex-funcionários da Petrobras, Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, ambos delatores da Lava-Jato.
Ele também administrava uma conta em nome da offshore Klienfeld, também usada para transferir propinas para Barusco e Costa. Os documentos que comprovam a administração das contas foram obtidos com a quebra de sigilo de dois e-mails usados pelo executivo, um deles da própria Odebrecht. Segundo a PF, os documentos foram digitalizados dentro da empresa.
Uma das contas da Klienfeld foi usada para transferir dinheiro também para o publicitário João Santana e para a mulher dele, Mônica Moura. O casal recebeu por meio da offshore ShellBill, que mantinha conta no banco Heritage. Segundo o Ministério Público Federal, Migliaccio foi transferido para os Estados Unidos depois de iniciadas as investigações da Lava-Jato, no segundo semestre de 2014. No primeiro semestre de 2015 esteve no Brasil, mas voltou para os Estados Unidos depois que foram feitas buscas e apreensões na Odebrecht, em junho de 2015. A Odebrecht pagou todas as despesas e providenciou os vistos.
Migliaccio foi funcionário da Odebrecht até 2015. Apesar de ter se desligado formalmente da empresa, o MPF apreendeu documentos que mostram que ele continuou a receber salário. A casa onde Migliaccio mora, na Flórida, foi adquirida por uma das offshores abertas por ele. Para os investigadores, a mudança de Migliaccio foi uma das "manobras orquestradas por Marcelo Odebrecht e seus funcionários", destinadas a dificultar ações de investigação das autoridades brasileiras.
O atual presidente da construtora Norberto Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, segundo a Polícia Federal, era a pessoa acionada pelo empresário Marcelo Odebrecht para tratar de assuntos referentes ao meio político, inclusive apoio financeiro. Nas mensagens por celular apreendidas pela Lava-Jato os investigadores verificaram pelo menos uma referência a um pagamento de R$ 100 mil a uma autoridade com foro privilegiado.
A troca de mensagem entre os dois também faz menção a uma "conta Pós Itália", que, segundo despacho do juiz Sérgio Moro, pode ser uma referência à pagamentos posteriores aos que constam na planilha do "programa italiano", onde eram anotados os pagamentos de propina. Ao confrontar anotações do empresário Marcelo Odebrecht com a planilha, a Polícia Federal identificou reuniões ocorridas em outubro de 2010 e abril de 2011. Numa delas, o ex-ministro José Dirceu, denunciado na Lava-Jato, se encontrou com um dos executivos da Odebrecht.
Para o juiz, a referência feita na planilha de maneira cifrada, com apenas iniciais de nomes, e a reunião com Dirceu "constituem indícios de envolvimento deles em atividade criminal perpetrada pela Odebrecht". Quando as mensagens foram interceptadas, Benedicto Barbosa comandava a Odebrecht Infraestrutura.
FONTE: O Globo
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