Treinados em defesa pessoal e primeiros socorros, voluntários brasileiros do Guardian Angels (ou "anjos da guarda") circulam pelas ruas da cidade para "realizar prisões em flagrante" e "garantir a ordem e a segurança das pessoas de bem". Seus integrantes andam desarmados e se baseiam no artigo 301 do Código Penal, que permite a qualquer cidadão dar voz de prisão a infratores flagrados cometendo delitos.
Na prática, sempre uniformizados, os patrulheiros fazem rondas em bairros como Copacabana, Lagoa e Ipanema, imobilizam suspeitos até a chegada da polícia e conduzem vítimas a delegacias ou hospitais. Desde os arrastões registrados em setembro, eles intensificaram a divulgação das abordagens em grupos fechados no Facebook.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado criticou a presença do grupo nas ruas.
"A segurança pública deve ser exercida por servidores capacitados para a função", disse equipe do secretário José Mariano Beltrame, em nota.
À BBC Brasil, o advogado Henrique Maia, fundador do Guardian Angels no Brasil, defende seus seguidores. "Nossa instituição realiza intervenções urbanas, salvando vidas e recuperando patrimônio das vítimas", diz.
Criada em 1979, em Nova York, para combater o aumento dos índices de crimes no bairro do Bronx, a entidade diz reunir hoje 5 mil voluntários, em 144 cidades e 17 países. Nos Estados Unidos, divide opiniões e é classificada por alguns como grupo de extrema direita ou milícia, mesmo que desarmada.
Olimpíada
Os Guardian Angels não informam quantos voluntários reúnem no Rio de Janeiro, mas aproveitam a visibilidade nas redes sociais para angariar novos membros por meio de cursos gratuitos em "defesa pessoal, primeiros socorros e prisão em flagrante".
As apostilas são enviadas por mensagem privada para os interessados e o treinamento dura 108 horas, incluindo aulas de técnicas de patrulha ("interromper uma luta, prisão em flagrante e apreensão de entorpecentes quando a quantidade for relevante") e de defesa pessoal ("quedas de cabeça, colocar no chão, evasão, garra de interceptação").
Aulas práticas são dadas na praia do Arpoador, bem próximo à sede do grupo, em Ipanema. Após receberem diplomas, todos membros são obrigados a usar o uniforme oficial ("sem custo") - uma mistura inusitada de boina e casaco vermelhos destacados por camiseta branca presa dentro da calça.
"Espero entregar para a cidade uma próxima turma de formandos preparada para atuar em grupo no verão, no Ano Novo, no Carnaval e principalmente nos Jogos olímpicos", diz o fundador do Guardian Angels no Brasil.
O patrulheiro rechaça comparações com os "justiceiros" (como ficaram conhecidos os praticantes de artes marciais que prometem vingança e espancamentos a envolvidos em arrastões), a quem define como "gangue de tendência neonazista e miliciana".
Diferentemente dos "justiceiros", que dizem pautar sua atuação pela "ineficiência da polícia e do Estado em perseguir criminosos", o líder dos Guardian Angels afirma apoiar "integralmente as ações do Governo e da PM".
Questionada sobre a atuação do grupo, a Secretaria de Segurança Pública do Rio disse que "um inquérito na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática da Polícia Civil apura a atuação criminosa dos chamados grupos de justiceiros nas redes sociais".
A BBC Brasil apurou que os Guardian Angels, entretanto, não estão na mira da investigação.
FONTE: BBC Brasil
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