Acompanhando a viagem da presidente Dilma Rousseff à Colômbia, o assessor internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, confirmou que houve um encontro entre representantes da guerrilha Exército de Liberação Nacional (ELN) e membros do governo colombiano em Manaus no ano passado.
A informação foi divulgada pela revista colombiana Semana em fevereiro, mas nunca havia sido confirmada ou comentada pelo governo brasileiro.
Na reportagem intitulada "As cartas secretas do ELN", a Semana, uma das principais publicações da Colômbia, diz que as Forças Armadas do país confiscaram em agosto, em uma operação no leste do país, vários arquivos armazenados em pen drives contendo supostamente correspondências e documentos do ELN.
Segundo a revista, um e-mail enviado por um guerrilheiro conhecido por "Nacho" menciona o que parece ser um ciclo de encontros exploratórios que teria ocorrido entre representantes da guerrilha e do governo no Brasil.
"Agora (o presidente Juan Manuel Santos) quer que as duas delegações de diálogo se reúnam, para avaliar como os processos podem evoluir, algo difícil porque a mesa (de negociações) nem sequer existe, não há um acordo sobre que agenda se vai discutir", diz e-mail atribuído a "Nacho" reproduzido pela revista.
"Apesar disso, vamos fazer esse encontro que estará encabeçado por dois dos primeiros comandantes. No dia 12 de abril, quando se fechou o ciclo conosco em Manaus, Brasil, o governo deixou no ar, sem data concreta, a convocatória para novos encontros. Agora, reaparece pedindo uma reunião na Venezuela no próximo dia 15 de maio."
Questionado por jornalistas, Marco Aurélio disse que o diálogo em Manaus ocorreu no ano passado. "Essas negociações devem ser secretas. Os acordos de Oslo entre palestinos e israelenses não teriam ocorrido se as negociações tivessem vazado."
Segundo o assessor da Presidência, o tema não foi discutido na reunião de Dilma com Santos, mas o Brasil sempre esteve disposto a ajudar no possível para o avanço da Paz na Colômbia.
Farc
O governo colombiano está em processo avançado de negociações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a maior guerrilha do país.
No mês passado, governo e Farc concordaram em chegar a um acordo de paz definitivo em seis meses.
O diálogo com o ELN, porém, ainda está em uma etapa exploratória, sem agenda definida, apesar de o governo Colombiano se mostrar disposto a incluir o grupo no processo de paz.
O ELN foi criado em 1964, inspirado pela revolução cubana e tem cerca de 2 mil guerrilheiros.
"Sem duvida nenhuma o Brasil ainda poderia aportar a esse processo – inclusive cedendo território para que as negociações ocorram", acredita o cientista político colombiano Carlos Medina, especialista em guerrilhas.
"Até porque a paz na Colômbia é algo que tende a beneficiar toda a região."
Após um encontro com o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, nesta sexta-feira Dilma elogiou o diálogo com as Farc e prometeu apoio integral do Brasil na "implementação" da paz.
O Brasil tem prometido apoio na área de agricultura familiar para ajudar a Colômbia a lidar com as populações rurais de regiões hoje dominadas pela guerrilha em um cenário de pós-conflito.
O país também tem colaborado há alguns anos nas iniciativas que visam o desarme de minas antipessoais em áreas antes conflagradas.
FONTE: BBC Brasil
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